Uma nova linhagem do vírus influenza, causador da gripe, foi identificada em porcos na China. Segundo pesquisadores, a nova cepa tem “todas as características essenciais de um vírus pandêmico candidato” e, por isso, precisa ser monitorada “rigorosamente” e “com urgência”. A recomendação é uma medida preventiva, já que o vírus ainda não apresentou grande ameaça. Apesar disso, as vacinas contra gripe podem ser adaptadas para combater o novo vírus, se necessário.
A preocupação surge do potencial que o vírus G4 EA H1N1, como foi denominado, tem de infectar humanos. Isso porque as linhagens utilizadas em vacinas contra a gripe, aplicadas anualmente nos humanos, não protegem contra o G4 EA H1N1. Para chegar nessa conclusão, os pesquisadores analisaram a reatividade cruzada dos anticorpos contra o novo vírus.
A imunidade cruzada ocorre quando o sistema imunológico protege o corpo de um vírus ao qual nunca teve contato, mas que apresenta semelhanças com outros vírus já conhecidos pelo sistema. No caso do Sars-Cov-2, por exemplo, um estudo encontrou indícios de imunidade cruzada contra a Covid-19 em pessoas que já tinham se infectado com outros coronavírus, como o Sars-Cov e o Mers. Entenda o que é imunidade cruzada.
"No momento estamos distraídos com o coronavírus e com razão. Mas não devemos perder de vista novos vírus potencialmente perigosos”, explicou Kin-Chow Chang, um dos autores do estudo, em entrevista à BBC. A descoberta vem, inclusive, de um trabalho de vigilância sistemática dos vírus influenza em suínos.
Os pesquisadores realizaram testes sorológicos em pessoas que trabalham com porcos, como em matadouros e na indústria suína, para avaliar a infectividade em humanos. Pelos resultados, 20,5% dos humanos (nove de 44 testados) deram positivo para o G4 EA H1N1, enquanto 10,4% dos porcos (35 de 338 testados) estavam infectados. A partir das taxas, o estudo concluiu que a nova linhagem do vírus adquiriu maior infectividade entre os humanos.
“Os porcos são hospedeiros intermediários para a geração do vírus da gripe pandêmica. Por isso, a vigilância sistemática dos vírus influenza em suínos é uma medida fundamental para avisar o surgimento da próxima gripe pandêmica”, alerta o artigo publicado nessa segunda-feira, 29, na revista acadêmica estadunidense Proceedings of the National Academy of Sciences.
Gripe suína
A gripe suína já é familiar, sendo reconhecida pela primeira vez na pandemia de 1919. Ela circula entre os humanos como uma gripe sazonal e todo ano as pessoas precisam ser vacinadas contra a gripe. Ela é causada pela cepa (linhagem) do vírus influenza H1N1, que começou em porcos - daí o nome.
Em 1919, a doença começou a ser registrada inicialmente no México e depois se espalhou pelos Estados Unidos. Em 2009 houve outro surto de H1N1, que não foi tão mortal quanto a pandemia de 1918 a 1919. Ainda assim, provocou 2 mil mortes no Brasil. O vírus era altamente contagioso e se espalhou rapidamente, o que fez com que a Organização Mundial da Saúde (OMS) emitisse um alerta de pandemia em abril de 2009.
No caso da G4 EA H1N1, a cepa é semelhante à da gripe suína de 2009, mas com mudanças. Até o momento, ela não apresentou grande ameaça, mas deve ser monitorada “rigorosamente”. O vírus pode crescer e se multiplicar nas células que revestem as vias aéreas humanas.
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